segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Diário de Intercambista - O sonho

Postado por Camilla às 18:36
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Não sei o que me levou até aqui. Mas de qualquer forma, estou aqui, agora. Não dá pra voltar. Não dá pra parar. Eu preciso continuar andando, andando. Forço minhas pernas. "Pé direito, pé esquerdo, pé direito, pé esquerdo", repito mentalmente. Eu não quero partir. Ou na verdade quero? Ah, desculpe minha falta de educação, não lhe apresentei a história desde o começo. Mas pensando bem, a história é muito longa e não estou muito a fim de explicar isto a você. Pois bem, continuemos. Dou de cara com um grupo. Todos usando a mesma camiseta ridícula da empresa que nem eu que segundo eles, inspira o espírito de equipe. Ok. "Me achei". Sorrio e tento reconhecer alguns, sou a mais simpática possível e de repente, estou realmente confiante. É o meu sonho afinal, não posso estar fazendo besteira. E no meio de sorrisos, risadas, e abraços eu vacilo. Uma rápida olhada, não vai fazer mal não é? E de um instante para o outro, estou chorando novamente. Minha mãe, com os olhos molhados e meu pai ali, todo tristinho... Como não sentir falta disso? Não quero pensar nisso, não quero. Mas é impossível. Vou ficar um mês inteiro sem vê-los, sem abraçá-los. "Fiz uma grande merda", pensei.


Minha cabeça não está ajudando muito. Sinto latejar. Não consigo respirar direito, estou doente há dois dias. Calma, apenas mais 12 horas de viagem até a Inglaterra. Nada demais. Coloco um sorriso no rosto e sigo em frente, procurando meu assento. Já mencionei que odeio avião? Me sinto mal com todo aquele ar condicionado e falta de privacidade. Não tem espaço para esticar as pernas, não posso deitar! Nota a mim mesma: escolher primeira classe na próxima viagem a Europa. Apenas brincando. Olho ao lado e encontro o menino do mesmo grupo que eu. Já havia conversado com ele antes pela internet e fiquei muito amiga dele. Talvez passe rápido, com uma pessoa legal ao lado.
- Sabia que este avião é um modelo 3457? Estamos num modelo mais seguro da categoria, não precisa ter medo.
- Ah, não tenho medo. - sorrio. Realmente, não tenho medo de avião. Apenas se ele cair, é claro.
- Isso é bom... Mas pensando bem, já ocorreram vários acidentes com esse tipo de avião. Claro que não pela TAM...
- Certo. - digo totalmente desinteressada.
- Bem, na verdade houve alguns mais nada do que se preocupar, apenas se o piloto desviar um pouco da pista. Se isso acontecer, o avião não decola e vamos direto para a avenida bem ali.
- Hum, mas isso não vai acontecer. - tento parecer gentil, mas isso não é um papo muito bom nesse momento.
- Não, não... Claro que é possível, mas apenas se ele não seguir os procedimentos corretos. Você sabe, regular o Estabilizador Horizontal, essas coisas simples... Olha - ele aponta para fora da aeronave - aquele ali é um modelo Boeing 727-100 da TAP. Super moderno, boa estabilidade, com média capacidade de passageiros....- Não, você se engana. Ele não parou de falar ai. Eu é que parei de escutar. Além de ser um assunto mais massante que já escutei, ainda tenho que aturar essas caras e bocas do menino que fica dando em cima de mim. Não quero dizer o nome real, então vou apenas chamá-lo de Frango. Não a toa. O moleque era mais magro do que meu primo de 10 anos. Ok. Decolamos finalmente. Minha rinite não dá trégua e o que eu mais quero nesse momento é dormir 12 horas seguidas. Mas parece que algum metido a piloto não cala a boca.
- Por favor, para de falar um pouco, eu quero dormir.
- Ah, desculpa, desculpa. Pode dormir, se quiser encosta aqui - e aponta para o seu ombro - Vem, pode vir.
- Não, tô bem, valeu.
- Não não, pode encostar não me incomodo, fica ruim pra você dormir aí na sua cadeira.
- Não fica não.
- Tem uma almofada aqui, deita aqui, pode deitar.
- Porra, já falei que eu não quero.
Dou uma risadinha para não soar tão rude. Mas eu queria soar o mais grosseiro possível. Queria que o grande modelo de avião com capacidade para 3 mil pessoas chegasse agora na universidade. E queria que o meu grande amigo Frango fosse esquecido no aeroporto. Fecho os olhos para a maldita boca do menino não fecha. Ele continua falando sobre aviões e tentando de todo modo encostar em mim. Eca. Olho no relógio, faltam apenas 11 horas. A questão é: vou sobreviver até lá?

CONTINUA...

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